Segunda-feira, 25 de Junho de 2007
Primeira parte do making of do programa A História Devida, com Inês Fonseca Santos e Miguel Guilherme.
COLOQUEI NO MEU BLOGUE
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Neste Natal, mais uma vez se cumpriu a tradição.
Rumámos à santa terrinha para, pelo menos uma vez por ano, estarmos todos juntos.
Quando cheguei à Nossa Casa vi que os vasos onde a minha mãe plantara os cravos há quase vinte e dois anos, não estavam lá em cima, na varanda.
Continuavam na rua, mas à entrada de casa. As ervas daninhas já os tinham invadido. Tinham mau aspecto...
Nada comparado com o cuidado que a minha mãe lhes dedicava: eram os cravos da Leonor, minha filha, dizia ela, por ter ali estacado os pézinhos das flores que os amigos me tinham oferecido em Abril de 1987, ainda na maternidade.
Certo é que perto do dia vinte e três de Abril os cravos floriam, como a comemorar o nascimento da pequenita, hoje mulher.
Inevitavelmente, sempre que isso acontecia, a minha mãe telefonava-me e dáva-me a boa nova:
- Os cravos da Leonor já abriram.
Fiquei um pouco irritada por os vasos não estarem cuidados, nem colocados onde era costume... na varanda.
Desde a morte da minha mãe, imagino aquela casa "parada" no tempo... caprichos meus!
Quando entrei olhei para o cimo da escadaria e mais uma vez visualizei a minha mãe: ali, no cimo, ansiosa com tudo: a viagem, a vontade de nos beijar, abraçar, a hora do jantar... sei lá que mais.
O casaco de malha grossa, mesclado, onde o cor-de-rosa sobressaía, sempre pelas costas, abotoado só no primeiro botão, como se de um xaile se tratasse. Nos pés os chinelinhos de trapo.
Nada combinava com a beleza dela, nem com o cabelo arranjado e as mãos cuidadas... Já para não falar dos cuidados que tinha com a pele.
Era uma senhora!
Mas, nestes dias de azáfama, vestia-se assim:
- É mais prático e confortável,dizia-nos.
Subi a escadaria e como de costume, discretamente travei ali o passo... o tempo suficiente para a beijar.
À mesa éramos dezassete. Faltaram três sobrinhos.
O lugar da minha mãe passou a ser ocupado por uma tia, irmã do meu pai.
A noite passou a correr.
O tio Tinó mais uma vez "encarnou" o Pai Natal.
Este ano sem fato, mas com um grande nariz de palhaço vermelho que a Ritinha, minha nora levou e, na cabeça uma bandolete com hastes de rena.
UMA RISOTA!
Família divertida!
Pouco a pouco, a sala foi-se esvaziando... o cansaço apoderava-se de nós e lá nos íamos despedindo:
- Até amanhã...
No dia seguinte, já perto da hora do almoço, eu desci as escadas para ir até ao jardim.
O sol a isso convidava.
Mal abri a porta para sair vi um cravo vermelho aberto, a despontar das ervas daninhas do vaso.
Estranhei... Cheguei a puxá-lo da terra... seria verdadeiro? Numa família de brincalhões nunca se sabe...
Mas era VERDADEIRO!!!! UM CRAVO VERMELHO NO DIA 25 DE DEZEMBRO????? Ali na rua?? Com aquele frio???
Calei-me.
Engoli em seco.
Afastei-me devagar, sem nunca tirar os olhos do cravo... Estava confusa.
De repente, a minha irmã sai também de casa e vê o mesmo que eu.
E a Quicas que sempre teve o "dom" de interpretar "coisas", chamou-me em voz alta e disse-me feliz:
- Bebé, a mamã está ali!
OBRIGADA MÃE!
NATAL DE 2008
ANA GRALHEIRO
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