Sábado, 4 de Outubro de 2008

Contratempo

 

Neste momento a " História Devida" está num impasse, ou melhor sofreu um irritante revés.

Privados do nosso espaço de divulgação das histórias, a rádio, vamos ter de nos reinventar procurando outras formas de chegar ao público

A todos aqueles que gostavam do programa e que foram ouvintes fiéis e a todos que ao longo de quase três anos o alimentaram com os seus textos o nosso obrigado

 

Até ao fim do ano vamos organizar um encontro com todos os que nos têm acompanhado para entre outras coisas vos informar do novo formato da HdV , que passará inevitavelmente por uma maior utilização da NET e deste Blog que por sua vez também irá beneficiar de modificações.

 

Mas até lá gostaria de vos deixar com um poema que sempre quis ler no programa mas que por uma razão ou outra fui adiando e claro como tudo na vida tem uma história: Há dois anos  fui convidado para presidir á sessão de entrega de prémios de um concurso de escrita na prisão Hospital de Caxias. Eram bem entendido textos escritos pelos reclusos. A mim cabia-me entregar os prémios e ler os trabalhos dos três primeiros classificados e bom lá fui com a maior das curiosidades e boa vontade. Mas o poema que ganhou o primeiro lugar deixou-me profundamente impressionado, era bom era mesmo muito bom. O autor era um jovem recluso de ar tímido e que pelo que soube há poucos dias já se encontra em liberdade.

 

Na altura pedi-lhe autorização para o ler e ele deu-ma peço desculpa por nunca o ter feito.

 

Isto faz-me lembrar outra história mais antiga também passada numa prisão: Uma companhia de teatro profissional Americana- julgo que de S. Francisco- decidiu representar para os reclusos de uma prisão estadual " Á Espera de Godot " . No fim da peça e sem que nada o fizesse esperar tiveram uma ovação estrondosa (aliás a peça mudou para sempre a vida de um dos presos que mais tarde após ser libertado se veio a tornar actor profissional e intérprete de algumas peças de Beckett com o apadrinhamento do próprio que o considerava um interprete muito capaz dos seus textos). 

 

Seguiu-se o debate com a audiência, e claro o tema principal recaiu sobre quem seria o misterioso Godot  de Beckett. Ás tantas um dos prisioneiros levanta-se e diz apenas " Todos nós aqui entro sabemos muito bem quem é Godot".

 

O debate acabou ali.

 

Até amanhã e boas Histórias.

Miguel

Nuno

Inês

 

  

Um Pouco de ti

Atormenta-me a noite, a tua ordem ...


De que me serviu servir? ... Fui sem ser nem ter ido.
Quem me quis roubou-me. Para quê tanto e tudo?
Eu que pus grades na alma e tectos nos céus dos meus sonhos ...
Vou sorrindo ... pois ... tudo o que é grande cabe num sorriso


E ser-se feliz no corpo é já ser-se feliz na alma.
Nos céus tenebrosos da culpa, a fúria; na terra dos sonhos e nos mares distantes, a
calma.


Cabe-me neste olhar distante centenas de anos de frustrações e angústias. Milhares de


anos de pressão sobre mim, profanos
Labaredam-me os olhos com memórias orquestradas de festim
E me suspiram de recordações, a alma, um sopro sem fim.


Naquele fim longínquo onde finda o clarão, nesse horizonte acaba-se-me também a
mim a ilusão e termina a solidão.
E não é ela, não, são todas, tudo é vago e fugaz.
Quem fez da vida o que queria? Quem não foi o que a vida faz?
Onde foste que eu fui; onde foi que me perdi?
Transversal ao mundo andei, livro que folheei e não li
Enganado, enganei, sem querer, fiz ....
Quem faz o que quer? Quem faz o que diz? ..
Na indecisão, ao menos, finge que sorris.
Enquanto o teu sorriso durar, um pouco de ti é já feliz.


Perante o assombro, da vulgaridade, da vida (e como é violenta, negada ... !)
Sempre a pergunta antes da resposta, sempre o segredo por baixo da carta lacrada
Sempre o tempo à frente dele próprio a dar corda ao coração
Oh destino mostra-me o caminho, mostra-me o rosto, dá-me a mão.


Mas diz-me até onde estica a dor, quando parte a corda do sofrimento?
Se a vida não é em verso, será perverso o teu contento?


Balança a balança, sem trapaça nem graça, no despojo lança e à má sorte me laça.
Traz-me as novas que prega na praça e por lá bafeja a desgraça.
Saudade ... De mim ... Cantas, sentimento puro, que estrafega, asfixia.
Sorrirás tu à desgraça? Só para que de ti ela não se ria ... ?


E dito isto, gritando, jogou a ampulheta no chão.
E depois do último grão de areia que caiu
Olhando despedaçados pedaços de tempo ali jogados em vão -ou não -sorriu.
Como quem empurra a alma de ter tido, para já ser feliz, no cimo de ter.
 

 

Publicado por Produções Fictícias às 20:57
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